Por Marcelo Betioli
Foi no distante ano de 1983 no Grande Prêmio de Macau, pela Fórmula 3. Este GP foi responsável pelo encontro de dois pilotos que viriam a se tornar grandes amigos dentro de um mundo cheio de ganância, o mundo da Fórmula 1.
O resultado final do Grande Prêmio foi: Ayrton Senna (brasileiro) em primeiro, Roberto Guerrero (colombiano) em segundo e Gerhard Berger (austríaco) em terceiro. Á noite, na entrega dos prêmios, Berger iria receber uma bonificação em dinheiro por fazer a volta mais rápida, mas verificando os resultados, ele descobriu que quem fez a melhor volta tinha sido Senna. Com isso, resolveu contar para o brasileiro e passaram a noite inteira conversando, até o fim da festa. O detalhe é que os dois nunca tinham se falado.
Ambos os pilotos acabaram ingressando na Fórmula 1 em 1984. Gerhard Berger fez a estreia pela equipe ATS (hoje extinta), enquanto Ayrton Senna estreou pela equipe Toleman (hoje extinta).
Depois do ano de estreia, Berger foi para a Arrows em 1985. No ano de 1986 se transferiu para a Benetton e em 1987 foi contratado pela Ferrari, onde ficou até 1989. Ayrton Senna foi contratado pela Lotus em 1985, onde ficou até 1987 quando fez sua estreia pela McLaren em 1988. Durante todos esses anos, a relação entre os dois foi puramente profissional, conversas somente antes e depois das corridas e disputas dentro da pista.
Com a transferência de Alain Prost para a Ferrari, Senna iniciou 1990 com um novo companheiro de equipe. A McLaren contratou Gerhard Berger, alguém que o brasileiro já conhecia.
Berger sempre foi um brincalhão, mas foi durante os anos de McLaren que seu lado humorístico se tornou mais famoso. Ayrton sempre foi um cara quieto, sério, reflexivo, dedicado, mas nunca demonstrou um grande senso de humor e com a chegada de Gerhard, isso começou a mudar. Aos poucos, o brasileiro foi se descontraindo mais e isso agradou e muito o chefe da equipe Ron Dennis. O inglês percebeu que piadas e brincadeiras começaram a acontecer com mais frequência dentro da equipe e a competitividade aumentava para ver quem aprontava mais com o outro.
Certa vez, Senna comprou uma pasta executiva e Berger já conhecia o comercial da maleta, veiculado nos Estados Unidos, onde mostrava a capacidade de resistência ao suportar o peso de um elefante. Um helicóptero estava preparado para levá-los, junto com Ron Dennis, para o autódromo de Monza, na Itália. Faltando pouco para o pouso, Ayrton não percebeu quando o austríaco pegou sua pasta e atirou de uma altura de aproximadamente 150 metros. Após fazer a aterrissagem, o brasileiro viu que a maleta resistiu, como no comercial, mas as canetas que estavam dentro explodiram com o impacto, detonando toda a papelada de Senna.
Em outra ocasião Senna e Berger estavam em um passeio de trem no Japão. À noite, ambos teriam que comparecer a um jantar e o brasileiro aproveitou a situação e encheu os sapatos de Berger com espuma de barbear. O austríaco teve que comparecer ao jantar vestindo smoking e usando tênis de corrida.
A parceria entre Ayrton Senna e Gerhard Berger na McLaren durou três temporadas (entre 1990 a 1992). Berger voltou para a Ferrari em 1993 onde ficou até 1995 e se transferiu, em 1996, para a Benetton onde encerrou a carreira no fim da temporada de 1997. Senna permaneceu na McLaren até 1993 e no ano seguinte foi contratado pela Williams. Esta temporada de 1994 ficou marcada com o fim da carreira do brasileiro após um acidente fatal no GP de San Marino.
Após a aposentadoria, Gerhard Berger costumava ser visto em várias corridas e em 2006 adquiriu 50% da STR (Scuderia Toro Rosso) e os outros 50% ficou com Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull. No fim de 2008, Berger vendeu sua parte na equipe para Mateschitz.
Dez anos após a morte de Senna, Berger fez uma homenagem ao brasileiro. No circuito de Ímola, em San Marino, ele pilotou por três voltas a Lotus usada por Ayrton em 1985, a mesma em que o brasileiro ganhou a primeira corrida da carreira.
Gerhard Berger e a família Senna estão sempre muito próximos.
Ayrton Senna e Gerhard Berger: dois grandes pilotos na história da Fórmula 1 que mostraram que é capaz de existir uma grande amizade em um mundo tão competitivo e onde a política costuma falar mais alto.
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